Será que o amor deixa o outro livre para amar? Especialista fala sobre as diversas formas de discurso e pensamentos sobre o amor.
Quem nunca amou sem ser correspondido? Ou quem já esteve em um relacionamento e se sentia preso? A maioria das pessoas quer amar e ser amado, mas será que esse tipo de relação pode nos aprisionar? Será que entendemos o amor e todas as suas formas e linguagens?
Sônia Eustáquia, psicóloga e sexóloga explica que existem várias formas de expressar o sentimento de amor. “Amar pode significar fazer o bem à outra pessoa ou simplesmente ser um sentimento mais egoísta vivido narcisicamente, ou seja, voltado para si mesmo. Entretanto, amar o outro em liberdade, para mim, é a única forma boa de expressar o sentimento. Ou seja, é preciso eliminar o conteúdo autoritário dessa relação e garantir a quem amamos a liberdade de amar além e apesar de nós e de nosso amor. É preciso amar mais a possibilidade de amar que o próprio amor e os nossos objetos de amor. Devemos assim amar o nosso amor independentemente de estar recebendo o amor do outro”.
Segundo a especialista, a dificuldade para a realização plena do amor entre as pessoas não é um problema desse sentimento em si, mas do ambiente social, dos preconceitos, do moralismo laico ou religioso, do autoritarismo, da luta de classes, dos interesses econômicos e políticos.Ela garante que essas questões influenciam o sentimento de liberdade na hora de amar. “Não se trata de "libertinagem" e sim de liberdade. Que nosso amor esteja cheio de vida e cor, que seja voluntário e desejado. Livre de coerções morais, econômicas, políticas ou sociais”, disse.
Os conflitos do amor
Ela explica que dentre tantos conflitos, é possível amar alguém e não amar a se mesmo. “As crianças amam em primeiro lugar a si próprias, e apenas mais tarde é que aprendem a amar os outros e a sacrificar algo de seu eu aos outros. As próprias pessoas a quem uma criança parece amar desde o início, no começo são amadas por elas porque necessita delas e não pode dispensá-las, por motivos egoístas mais uma vez. Somente mais tarde o impulso de amar se torna independente do egoísmo. É literalmente verdadeiro que seu egoísmo ensinou a amar”, define.
A especialista não descarta questões ligadas à maturidade da pessoa ao enfrentar situações como amar sem ser amado ou ser amado e não poder amar. “A não correspondência do amor é algo muito ruim em se tratando do amor romântico. É ruim para quem não o recebe como também é muito ruim não o sentir quando a outra pessoa tem a expectativa dele”.
A sexóloga lembra que Freud, criador da psicanálise, considera que as paixões são, na verdade, ecos das lembranças do amor infantil. É o amor vivido na infância que rege a vida de cada um. Dessa vivência resulta o que cada um será no futuro e o Complexo de Édipo seria a modulação da forma de cada um amar. “De certa forma o amor incomoda, porque queremos estar pertos e junto da pessoa amada para nos sentir completos. Também incomoda porque a ameaça de perda põe em risco o próprio sossego. Dessa forma, o amor já não é tão libertador como poderia ser. Também, estamos sempre querendo o outro por perto para suprir a nossa falta existencial, por isso, a dificuldade em deixá-lo ir. É como se fosse uma perda ou se afastasse de nós mesmos um pedaço nosso”, esclareceu.
A especialista ressalta que a experiência do amor está ligada à experiência dos efeitos inconscientes. “Pode parecer complicado, mas, é muito bom amar. Sempre estar em estado de amor!”.
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