quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A intolerância nas redes sociais

Especialista fala sobre como a internet revela a intolerância dos brasileiros às diferenças.


Um estudo realizado recentemente pela plataforma digital “Comunica Que Muda”, monitorou a internet com o auxílio de um software e concluiu que a intolerância de maior audiência no Brasil é a política, com quase 220 mil menções; à misoginia, que é a aversão às mulheres, aparece em segundo lugar; seguida por preconceitos relacionados à orientação sexual, deficiência, aparência, raça dentre outras. No total foram analisadas 393.284 menções feitas por internautas de todo o país, em redes como Instagram, Twitter e Facebook. Expressões como cabelo ruim, gordo, vagabundo, retardado mental, boiola, malcomida, golpista, velho e nega foram as expressões predominantes. 

Sônia Eustáquia Fonseca, psicóloga e sexóloga explica que a intolerância nas redes é resultado direto de desigualdades e preconceitos sociais em geral e não é uma invenção da internet. “O que ocorre é que o ambiente em rede facilita que cada um solte seus “demônios”, ao dar a sensação de um pretenso anonimato. O mundo virtual é, portanto, mais uma forma para que os intolerantes se manifestem e ampliem o seu alcance”. 

Intolerância sexual

A intransigência com a mulher e com a homossexualidade data-se de longos tempos, incluindo inclusive violência. De acordo com a especialista, as redes sociais apenas amplificaram os discursos existentes no nosso dia a dia. “No fundo as pessoas são as mesmas, nas ruas e nas redes. Infelizmente o Brasil lidera as estatísticas de mortes na comunidade LGBT, mata muito mais negros do que brancos e aparece em quinto lugar em homicídios de mulheres”, disse. 

Ela acredita que exista um complexo de inferioridade frente ao homem. Para a psicóloga, a mulher ainda não se posicionou como deveria depois de tantos anos de luta. “Foram muitos séculos de repressão. Os gifs e memesviralizam nas redes sociais com dizeres que pormenorizam e depreciam o gênero feminino, e o mais absurdo nisso é que esses posts são compartilhados por mulheres. São mães, trabalhadoras, irmãs, amigas que não enxergam o machismo velado, das desigualdades no mercado de trabalho, da violência psicológica. Precisamos tomar cuidado!”, alerta.

Em relação à homossexualidade, a especialista lembra que a homofobia é uma manifestação de ódio à diferença, mas, sobretudo um atentado à dignidade da pessoa e que alguns posts podem incentivar e influenciar muitos.


Presencial X Virtual

De acordo ainda com Sônia, há um clima de radicalização permanente na web, em torno de qualquer assunto e formam-se dois ou mais blocos de opinião absolutamente opostos, sem nenhum espaço para mediações. “Parece que as pessoas têm mais coragem quando estão online. Mas a internet, como qualquer tecnologia não é em si mesma boa ou má. O Brasil sofre de um problema crônico de educação virtual. Somos imaturos. A sensação de segurança mistura-se a uma falsa ideia sobre a liberdade de expressão. A ideia de estar livre para disseminar comentários maldosos acontece porque a pessoa acredita que não será encontrada, já que a internet é uma plataforma recente”, afirmou.

Ela ressalta que é fundamental que as pessoas tenham noções de cidadania desde os primeiros cliques. “Também é preciso incorporar políticas públicas para tratar de direitos humanos e liberdade de expressão. O Facebook diz que criou mecanismos para receber denúncias de ódio, racismo e intolerância. Falta pensar em algo que promova o debate de ideias que caracteriza um espaço genuinamente democrático”, finalizou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário