sexta-feira, 11 de abril de 2014

Barbies humanas inspiram meninas no Brasil e no mundo; especialistas alertam para riscos

Foto: Portal UAI

Polêmica envolve o incentivo a transtornos alimentares; garotas valorizam visual magérrimo e modificado por maquiagem para se assemelharem a bonecas

Embora sem os traços preconceituosos revelados por Valeriya, o estilo de vida ‘Barbie Humana’ não está longe do Brasil. Eleita recentemente vice-campeã em um concurso que escolheria a melhor representante brasileira nesta categoria, a curitibana Narumi Kataiama impressiona. Ela mede 1m e 53cm e declara o peso de 33 quilos. A cintura, apontada como ‘a menor no mundo das bonecas humanas’ seria de 48 cm com corset. A meta é chegar a 45 cm.

De acordo com o Bruno Sander, um biotipo pequeno – magro e baixo - e mesmo um IMC reduzido, como o de Narumi, não indicam necessariamente que há um transtorno alimentar. “Existem pessoas que, mesmo saudáveis e com alimentação correta, têm muita dificuldade para ganhar peso. Um tipo de corpo pequeno, isoladamente, não indica que há desnutrição ou qualquer outro problema de saúde. Não podemos tirar conclusões precipitadas”, pondera o médico, lembrando que, no caso de Narumi, a ascendência asiática é um fator de forte influência.

Uma criança que sempre foi considerada magra, em comparação com os coleguinhas de escola, por exemplo, pode manter essas características na adolescência e na fase adulta. “Há meninas que com 12, 13 anos têm aparência de uma criança de 8. Na adolescência, ela não vai desenvolver um corpo igual ao das colegas, ainda que assuma formas femininas. O biotipo é definido por fatores genéticos, ambientais – como a alimentação e a prática de exercícios - e também hormonais. Deve ser acompanhado e, em caso de dúvida sobre o desenvolvimento da criança, vale procurar um médico para avaliação. Entretanto, o fato de alguém ser ‘mignon’ não caracteriza problema”, explica. 

Ele acrescenta que hoje, mesmo com a puberdade cada vez mais precoce, há crianças que desenvolvem-se mais lentamente. Isso pode, inclusive, estar relacionado a condições específicas de saúde. “A doença celíaca, por exemplo, enfermidade autoimune caracterizada pela intolerância à ingestão do glúten, pode levar à deficiência de alguns nutrientes e resultar no desenvolvimento de um corpo de menores proporções”, exemplifica Sander.

Segundo o especialista, portanto, o baixo peso e o desenvolvimento corporal são características individuais que não determinam, sozinhos, um diagnóstico de anorexia ou bulimia. “Uma pessoa pode ter um corpo muito diferente das formas dessas meninas-bonecas e ainda assim desenvolver um transtorno alimentar. E uma mulher com o corpo muito magro não necessariamente tem o problema”, esclarece.

Sander lembra, no entanto, que há riscos no ‘efeito espelho’. “Se uma pessoa que tem o corpo muito diferente do ‘mignon’ almejar essa aparência, muitas vezes a maneira que ela encontra para alcançá-la é parando de comer. Isso é um perigo. Com alimentação normal e saudável, uma pessoa com biotipo mais próximo da média brasileira, por exemplo, não consegue esse ‘resultado’, ainda que ela seja magra e tenha IMC perto de 20, por exemplo”, enumera o médico. 

O próprio índice de massa corporal (IMC) é outro risco de interpretação apontado pelo cirurgião. “Alguns fisioculturistas, durante períodos de competição, chegam a alcançar um IMC de 8 ou 9. Nem por isso são anoréxicos. Por outro lado, há pessoas com massa muscular mais pesada que, mesmo com IMC acima de 25, não estão com sobrepeso. Portanto, o índice é, sim, uma referência para que alguns problemas possam ser identificados, mas não pode ser avaliado sozinho. IMC baixo não significa necessariamente desnutrição”, destaca. 

Bruno Sander considera que os adolescentes, e particularmente as meninas, são o público mais afetado pelos padrões estéticos propagados em cada época. “Cada tribo estabelece mitos e padrões de beleza e de comportamento. As meninas geralmente querem ser magras e os meninos, mesmo sem estrutura corporal para isso, querem ser musculosos”, aponta. 

Mas quando o desejo de ter um corpo bonito vira preocupação exagerada? “Quando afeta a saúde física e mental. Uma pessoa que se sente mal com o corpo e quer mudar não é doente. Mas uma pessoa que se arrisca, passa longos períodos em jejum, fica seis horas na academia e priva-se de alimentos importantes pode estar desenvolvendo uma patologia”, alerta.

O gastroenterologista ressalta que todo ser humano busca estar bem consigo mesmo. “Mas, se para alcançar essa condição, ele resolve emagrecer, deve fazer isso com orientação profissional. Sem cortar alimentos por conta própria, principalmente na adolescência, que é um período de grandes mudanças no corpo. Tudo que é em excesso, atrapalha”, define o especialista.

Sinais de problemas

De acordo com Bruno Sander, a família deve observar os sinais desse excesso. “Se o adolescente não quer mais se alimentar na presença de outros membros da família, se ele ou ela nunca aceitam os alimentos oferecidos, se de uma semana para outra as roupas não servem mais, os pais devem ficar muito atentos”, orienta. No caso da bulimia, a atenção deve ser principalmente na primeira hora que se segue ao momento da refeição. As idas frequentes aos banheiro nesse período podem ser sintomas importantes.

Além de problemas como pele e unhas quebradiças, queda de cabelo e dificuldades intelectuais, a deficiência nutricional é uma consequência grave dos transtornos alimentares e de imagem. “Sem os minerais e vitaminas necessários, podem surgir problemas na escola e falhas na concentração. Além disso, a pessoa repete constantemente que está gorda e insatisfeita, ainda que exiba um corpo bonito e saudável”, aponta Sander. Segundo o médico, caso mais de um sinal seja identificado no jovem, é necessário buscar orientação profissional.

A primeira providência, neste caso, é ter certeza do diagnóstico, que será feito por meio de exames de sangue, avaliação física e pela conversa com o médico. Uma vez diagnosticado, o paciente deve ser encaminhado para uma equipe multidisciplinar, que inclua psiquiatras, psicólogos, endocrinologistas, nutricionistas e gastroenterologistas. “Só assim é possível reverter o processo que produz uma imagem distorcida de si mesmo”, define o especialista. “Peso saudável é aquele adequado à sua estrutura corporal, não pode ser definido apenas por um índice, um modelo ou por uma meta exagerada”, conclui Sander.

A psicóloga Sônia Eustáquia Fonseca, lembra, por sua vez, que apenas o fato de uma pessoa declarar que não faz dieta não garante que ela não tenha um distúrbio. “A anorexia nervosa tem como característica a negação do problema. Além da visão distorcida da imagem, a pessoa nunca admite que faz qualquer tipo de dieta. É um comportamento muito diferente de outros indivíduos que, apesar de desejarem perder uns quilinhos, conversam normalmente sobre a alimentação e assumem que estão fazendo regime”, afirma a especialista.

Fonseca acrescenta que a visão distorcida sobre o próprio corpo – ou seja, ver coisas que não existem – geralmente é acompanhada da paranoia em relação a ‘engordar’, da obsessão e da compulsão. O problema nunca vem sozinho. “O processo é tão severo que pode-se chegar ao risco de morte. E, neste ponto, pode haver necessidade de internação e cuidados psiquiátricos para contornar a crise. E só então iniciar o trabalho com a equipe multidisciplinar”, completa.

Leia a entrevista completa, acesse: 

http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/04/10/noticia_saudeplena,148242/barbies-humanas-inspiram-meninas-no-brasil-e-no-mundo-especialistas-a.shtml

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