Empresa nacional, Celltrovet investe na medicina regenerativa para animais de pequeno e grande portes
Lula é um cão da raça beagle que, durante muito tempo, lutou contra uma insuficiência renal. Idoso, com baixo peso e um sofrimento diário, ele estava condenado a morrer. Mas um tratamento com célula-tronco salvou sua vida e, seis meses depois, ele está feliz, ativo e até mais jovem. A terapia inédita e desenvolvida no Brasil é voltada para animais acometidos por doença renal crônica, aplasia medular, lesões tendíneas e ligamentares, sequelas neurológicas de cinomose, fraturas e não união óssea, lesão de coluna, osteoartrites e osteoartrose.
A tecnologia usa um concentrado 100% de células-tronco e foi desenvolvida pela Celltrovet, empresa que atua nas áreas de terapia com células-tronco, medicina regenerativa e engenharia tecidual para pequenos e grandes animais. No laboratório, elas são isoladas do tecido adiposo retirado de animais clínica e laboratorialmente saudáveis, de até seis meses de idade. Diversos testes estabelecidos pela comunidade científica, como de diferenciação e proliferação celular, são feitos para comprovar a qualidade do material, que é armazenado.
O presidente da empresa, Enrico Jardim Clemente Santos, explica que, como o sistema imunológico do receptor não reconhece as células-tronco, é possível aplicar o concentrado com o material de um determinado animal em outro. “Isso evita que um cão muito debilitado seja submetido a uma anestesia para a retirada do tecido adiposo, eliminando, assim, o risco de ele vir a óbito por causa dessa injeção”, diz. O procedimento de isolamento das células é propriedade industrial da empresa e é único. A Celltrovet é ainda a primeira da América Latina a trabalhar com células-tronco em animais de pequeno porte, de acordo com Santos.
O tecido adiposo é recolhido no momento da castração ou de alguma outra cirurgia, com uma incisão de menos de cinco centímetros. Simultaneamente, é coletado o sangue do animal para fazer diversos testes moleculares, a fim de constatar que o animal não está doente. Se detectado qualquer patógeno, o material é imediatamente descartado. O tecido é processado somente depois da comprovação de qualidade. “É pedida autorização ao dono, que normalmente concorda e ainda fica feliz pelo fato de o animalzinho dele poder ajudar outros.”
Enrico Santos alerta que o concentrado só é disponibilizado ao veterinário mediante protocolos clínicos que garantem a necessidade do tratamento. As amostras são armazenadas em vários tubos de 1,5 centímetro – cada um deles tem 2 milhões de células. Nas garrafinhas de cultivo elas crescem numa quantidade infinita de células. “Até hoje, temos células de 2005 que são usadas e anualmente testadas”, diz. Enrico, que trabalha com células-tronco desde 1995, resolveu testar seus conhecimentos no assunto ligados à veterinária depois de ver, em 2005, quando terminava o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), um site de uma empresa norte-americana que usava a metodologia para tratar cavalos. A empresa ficou incubada na USP durante quatro anos e depois saiu para comercialização.
Exemplos de superação
Já foram tratados mais de 300 animais com uma taxa de sucesso superior a 80%. Assim como Lula, Mel, uma buldogue de sete meses de vida e portadora de cinomose, uma doença degenerativa que acomete principalmente o sistema nervoso dos animais, também se recuperou depois do tratamento. Os veterinários já haviam indicado a eutanásia e o dono então recorreu ao tratamento de células-tronco como última opção. Hoje, a cachorrinha corre e brinca em casa.
Outro exemplo é a Hanna, uma gatinha de 5 anos que sofria de doença renal crônica e aplasia medular (quando a medula para de produzir todos os tipos celulares, células brancas, vermelhas e plaquetas). Ela também tinha os dias contados. Atualmente, Hanna é uma gata saudável, que brinca diariamente com o seu irmão. Fabio, um gato de 14 anos, acometido por doença renal crônica e insuficiência pulmonar, é hoje um animal saudável que nunca mais precisou fazer fluidoterapia para normalizar seus índices de ureia e creatinina, tampouco usar bombinha para melhorar seu quadro respiratório.
Mas a tecnologia começa a se disseminar agora, de acordo com o presidente da Celltrovet. “Nossos resultados na medicina veterinária mostram que funciona. Por enquanto trabalhamos com veterinários empreendedores, que acreditam na proposta. É um trabalho de formiguinha apresentar essa alternativa.” Ele ressalta que o tratamento é um conjunto de soluções. “As células-tronco não são milagrosas. Não se deve deixar de lado a fisioterapia ou a acupuntura, quando indicadas. A aplicação do concentrado otimiza e torna mais eficiente os outros tratamentos, ajudando veterinários e donos de animais com um serviço de maior qualidade e possibilidade de cura.”
FONTE: EstadodeMinas.com
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